quarta-feira, 25 de julho de 2012

“Posso tocar no seu cabelo?”


Se tem uma coisa que surpreende a gente é a textura do nosso cabelo real. Depois de tantos anos relaxando, alisando e escutando que ele é duro e parece palha de aço, quando nossos fios naturais começam a aparecer macios, brilhosos e hidratados na raiz, levamos um susto – pro bem, é claro! A nossa vontade de ficar passando a mão nos centímetros de cabelo virgem é quase irresistível porque a diferença é gritante – a raiz natural é infinitamente mais agradável ao toque do que o comprimento esticado e danificado. Quando o cabelo cresce e passamos de vez pela transição, podendo exibir aquela cabeleira 100% nossa, não podemos negar que chamamos a atenção por onde passamos – seja pelo tamanho do “afro” ou pelas incontáveis e minúsculas molinhas que ostentamos. 

Essa textura única não surpreende só a gente, mas a outras pessoas também. Por isso, somos muitas vezes pegas de assalto por alguém querendo colocar a mão no nosso cabelo. Toda natural tem uma história desse tipo para contar e as opiniões sobre o assunto se dividem: algumas não ligam e até acham divertido a curiosidade alheia sobre seus fios; outras detestam e acham uma imensa invasão de espaço alguém querendo tocar uma parte de seu corpo. 

As naturais que não se importam de terem o cabelo tocado se sentem lisonjeadas pela curiosidade, que na maioria das vezes vem seguida de vários elogios. Elas compreendem que cabelo crespo ou encarapinhado natural ainda é novidade para a maioria das pessoas, tanto em termos de atitude e coragem de quem decide usá-lo assim quanto em termos de sensação mesmo (será que é macio? Será que “espeta”? Será que é peruca?). Dessa forma, deixar-se tocar por outro, ainda que estranho, é uma forma desmistificar nossos cabelos e mostrar ao mundo que não somos ETs e que cabelo crespo natural não “morde”, podendo ser tão bonito e saudável quanto qualquer outro. 

Já as que repudiam mãos estranhas nos cabelos costumam se sentir invadidas em sua privacidade ou intimidade. Afinal, o cabelo é parte do corpo delas tanto quanto as pernas, os braços, o rosto – e, se pararmos para pensar, dificilmente encararemos numa boa um estranho abordar a gente na rua para perguntar “posso tocar nas suas coxas? Fora isso, muitas dizem se sentir como um animal de zoológico diante das reações negativas à recusa ao toque. Pois é, muitas pessoas se sentem ofendidas quando lhes negamos o direito de tocar em nossos cabelos, como se tivéssemos a obrigação de deixar! 

"Não toca no meu black!"

Apesar de eu tender mais para o grupo das que detestam mãos alheias nos cabelos, também compreendo e até mesmo concordo com os argumentos das naturais que gostam ou não se importam em terem seus cabelos tocados por outras pessoas. Eu costumo dizer que meu cabelo é só “pavê” e não “pacomê”, ou melhor, só para olhar e não para botar a mão. Mas ao mesmo tempo, eu não ligo que pessoas queridas ponham a mão nele, desde que pedindo permissão e da maneira correta: sem movimentos bruscos, sem correr os dedos por entre os fios, sem desmanchar os cachos, com as mãos limpas e secas... 

Acredito que, quanto às pessoas estranhas, antes de tudo, o toque precisa estar dentro de um contexto, precisa ter uma razão para acontecer. Fora isso, é necessário que se tenha educação e delicadeza no pedido. É muito legal quando uma pessoa nos faz um elogio e em seguida pede para colocar a mão nos nossos fios e podemos perceber que há uma atitude positiva nisso, que reconhece o carinho e a atenção que temos com nossos cabelos. Mas, ao contrário, é extremamente desagradável e ofensivo quando o toque vem sem aviso e percebemos que vem também acompanhado de expressões faciais e verbais de desdém, desqualificação ou repúdio ao nosso tipo de cabelo. 

Se você não gosta que ponham a mão nos seus cabelos, não sinta vergonha de falar. Seu corpo não é propriedade pública: você tem autonomia sobre ele. Agora, se você não liga quando isso acontece, preste atenção em quem põe a mão e de que maneira fazem isso. Não deixe que a sua gentileza se transforme em abuso cometido pelos “odiadores” do cabelo natural, nem lhes dê oportunidade de proferir piadas depreciativas através de você – até porque, com certeza, seus cabelos são lindos e não merecem o péssimo senso de humor de quem acha essas piadas engraçadas.

4 comentários:

  1. Olá Nica,
    eu também não gosto de ninguém pondo a mão no meu cabelo, estou em transição, ele está até com boa aparência, mas sabe como é... está macio mas não tem a sedosidade de um cabelo liso e para evitar algum possível constrangimento, não deixo ninguém tocar.
    bjus

    ResponderExcluir
  2. Oi Nica!Li o seu post rindo porque exatamente hoje aconteceu isso comigo no trabalho!!!rsrs Fiz meu Big Chop no sábado passado e 2ª fui trabalhar c/ o cabelo cortado,está bem crespo em curtinho,apenas uns 6 dedos de raiz natural,mas como sou carioca e moro em Manaus que é a terra da índias do cabelo liso,um cabelo como o meu é pura novidade!rs Uns disseram que acharam um graça,que eu fiquei linda e tudo mais,e eu tenho que acreditar né,e hoje um colega de trabalho me pegou desprevenida e meteu-lhe a mão no meu crespinho!rsrs Apenas ri e pensei droga,ele passou a mão no me cabelo,que saco!Tirando meu esposo também não gosto que passe as mãos no meu cabelo,principalmente sem minha autorização! :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, meninas, eu também não gosto de ninguém metendo a mão no meu cabelo principalmente porque desmancha todo o trabalho que eu tive para arrumá-lo! Hehehe

      Mas o que eu detesto mais ainda são as pessoas abusadas que insistem em pôr a mão, mesmo sabendo que eu não gosto, não quero, ou não deixo! >:(

      Excluir
  3. Oie!
    Impossível não lembrar da cena de Karate Kid em que as crianças chinesas ficam fascinadas com o cabelo do Jaded Smith e da mãe dele, todas pedindo para tocar! Sinceramente, achei tão lindinho...

    ResponderExcluir