quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Menina pode ser expulsa da escola por causa do cabelo; instituição se retrata e diz que não irá expulsá-la

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Mal deu para digerir a última postagem, e mais uma vez nossos cabelos crespos/encarapinhados estão na mídia - infelizmente, em mais um caso que envolve discriminação. Dessa vez foi nos Estados Unidos, com uma garota de apenas 12 anos, que recebeu um ultimato: mudar seu cabelo ou ser expulsa da escola onde estuda.

Vanessa VanDyke, a menininha cheia de atitude em questão, disse que não irá cortar seu cabelo. "Ele mostra como sou única", ela diz. "Ele é armado e eu gosto dele assim", completa. Ela recebeu o apoio da mãe, que também questiona o regulamento da escola, o qual determina que os cabelos dos alunos "não podem ser uma distração": "Uma distração para uma pessoa pode não ser para a outra. Pode haver um aluno com espinhas no rosto. Vão chamar isso de distração?", indaga a mãe.

O fato é que pouco tempo depois de a notícia sair em diversos sites de notícias pelo mundo, os administradores da escola vieram a público dizer que não ordenaram que a menina cortasse o cabelo, sob o risco de expulsão, mas "apenas" que o penteasse de forma diferente.

E nesse momento, voltamos à pergunta lançada na última postagem: será que nosso cabelo é realmente aceito, do jeito que ele é de fato?

Todos nós sabemos que o cabelo crespo não cresce "para baixo", pelo menos não em um primeiro momento. Não parece justo que o fato de uma criança ter cabelo crespo deve privá-la da possibilidade de ter um cabelo comprido, já que outras meninas, com outros tipos de cabelo, podem usá-lo grande e solto. Da mesma forma, não soa igualitário que, por ter um determinado tipo de cabelo, uma aluna deva se submeter a procedimentos químicos ou até mesmo usar produtos para estilizar os fios que as outras não usem necessariamente.

O que chamou a atenção de muita gente foi o fato de esta solicitação ter vindo da escola, justamente a instituição que deveria educar as crianças no sentido de torná-los mais tolerantes às diferenças entre os indivíduos e hábeis a conviver em sociedade de forma harmônica. A família da menina reclama que ela vinha sofrendo bullying desde que começou a usar o cabelo assim, há vários meses, e a escola não tomou providências em relação a isso. Pelo contrário, reforçou o motivo do assédio ao não reconhecer a individualidade e a singularidade de um de seus alunos, e o seu direito a ser respeitado, independentemente de suas escolhas estéticas.

O fato é que, infelizmente, a escola, em geral, ainda é um espaço de reprodução de preconceitos. Não só quando se omite, quando faz vista grossa para casos como este, mas também quando ela própria aponta a vítima como culpada de seu sofrimento, ou ainda quando ela mesma reproduz o discurso do preconceito, rotulando os alunos considerados diferentes ou desviantes do perfil estético esperado.

Há de se repensar esse tipo de norma escolar que é, em essência, discriminatória. Sabemos que normas devem ser respeitadas, mas elas também devem ser alvo de que questionamento e mudança, caso não abarquem as individualidades do grupo que pretende atingir.

Fica a pergunta que fiz há algum tempo para pais e mães, dessa vez para os educadores: o queremos ensinar às nossas crianças? O que nós, enquanto educadores, podemos fazer para levar noções de respeito às diferenças para a escola?

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O “black power” ainda é considerado um penteado radical?


Neste fim de semana, durante o Encrespa Geral do Rio de Janeiro, tive a oportunidade de conhecer a Alê Hammond e, junto com as outras meninas, trocamos algumas ideias sobre cabelo em ambientes profissionais. Pudemos perceber que, infelizmente, o nosso cabelo ainda incomoda, especialmente quando é usado em um “black power”*, ou o que os americanos chamam de “afro”.

Coincidentemente, hoje achei esta reportagem, que fala sobre como o “black power” é um estilo até hoje controverso quando está, principalmente, na cabeça de pessoas que frequentam ambientes corporativos e acadêmicos.

Por muito tempo, o “black power” foi visto como um penteado que representa uma afirmação, sobretudo uma afirmação política, pois esteve ligado a um movimento muito mais amplo de afirmação da própria negritude. Neste momento específico, o destaque aos nossos cabelos crespos/encarapinhados naturais era necessário como uma forma de reforçar a identidade negra.

Hoje, vemos várias blogueiras e vlogueiras ensinando mil e uma formas de estilizar nossos cabelos crespos que vão muito além do “black” e percebemos uma maior receptividade ao cabelo natural em diferentes espaços (escola, trabalho, igreja, família). Apesar disso, o penteado “black power” ainda é algo controverso.

No vídeo da reportagem, Michaela Angela Davis, uma das entrevistadas, comenta que o cabelo afro diz coisas, especialmente porque ele é um cabelo que cresce “para cima e para fora”, e que é curioso que a maneira mais “radical” que uma pessoa de cabelo crespo possa usar seu cabelo seja deixando-o crescer ao natural, da maneira como sai de sua cabeça.

O outro entrevistado, Jody Armour, professor de Direito, conta que ouviu de um aluno que era irônico que ele ministrasse disciplinas no curso de Direito quando ele mesmo, o professor, parecia um criminoso. Ele conta também que colegas de profissão disseram que usar o cabelo “black” daquela forma era impertinente e inadequado. 

Jody Armour

Ainda que o movimento de retorno ao natural tenha conquistado lugares importantes para nossos cabelos, há certa resistência na forma como esses cabelos podem ser apresentados. O “black power” pode ser considerado por algumas pessoas demasiado radical ou extremo, ou ainda um “cabelo de militante” ou, pior, cabelo de quem é descuidado e não profissional.

Diante disso, podemos questionar: será que nossos cabelos crespos estão sendo de fato aceitos em sua plenitude, ou ainda precisam ser “domados” e adaptados a normas sociais que guardam o ranço do preconceito?

Você já sofreu preconceito ou discriminação por usar seu cabelo natural em um “black power”?


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*  Vale dizer que Black Power é o nome de um movimento em prol da afirmação da identidade, da cultura e dos interesses dos negros nos anos 60 e 70. Aqui no Brasil, o nome “black power” acabou sendo associado ao penteado característico dos militantes do movimento, que faziam questão de enfatizar os cabelos crespos como símbolo da afirmação de suas características raciais.