segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O “black power” ainda é considerado um penteado radical?


Neste fim de semana, durante o Encrespa Geral do Rio de Janeiro, tive a oportunidade de conhecer a Alê Hammond e, junto com as outras meninas, trocamos algumas ideias sobre cabelo em ambientes profissionais. Pudemos perceber que, infelizmente, o nosso cabelo ainda incomoda, especialmente quando é usado em um “black power”*, ou o que os americanos chamam de “afro”.

Coincidentemente, hoje achei esta reportagem, que fala sobre como o “black power” é um estilo até hoje controverso quando está, principalmente, na cabeça de pessoas que frequentam ambientes corporativos e acadêmicos.

Por muito tempo, o “black power” foi visto como um penteado que representa uma afirmação, sobretudo uma afirmação política, pois esteve ligado a um movimento muito mais amplo de afirmação da própria negritude. Neste momento específico, o destaque aos nossos cabelos crespos/encarapinhados naturais era necessário como uma forma de reforçar a identidade negra.

Hoje, vemos várias blogueiras e vlogueiras ensinando mil e uma formas de estilizar nossos cabelos crespos que vão muito além do “black” e percebemos uma maior receptividade ao cabelo natural em diferentes espaços (escola, trabalho, igreja, família). Apesar disso, o penteado “black power” ainda é algo controverso.

No vídeo da reportagem, Michaela Angela Davis, uma das entrevistadas, comenta que o cabelo afro diz coisas, especialmente porque ele é um cabelo que cresce “para cima e para fora”, e que é curioso que a maneira mais “radical” que uma pessoa de cabelo crespo possa usar seu cabelo seja deixando-o crescer ao natural, da maneira como sai de sua cabeça.

O outro entrevistado, Jody Armour, professor de Direito, conta que ouviu de um aluno que era irônico que ele ministrasse disciplinas no curso de Direito quando ele mesmo, o professor, parecia um criminoso. Ele conta também que colegas de profissão disseram que usar o cabelo “black” daquela forma era impertinente e inadequado. 

Jody Armour

Ainda que o movimento de retorno ao natural tenha conquistado lugares importantes para nossos cabelos, há certa resistência na forma como esses cabelos podem ser apresentados. O “black power” pode ser considerado por algumas pessoas demasiado radical ou extremo, ou ainda um “cabelo de militante” ou, pior, cabelo de quem é descuidado e não profissional.

Diante disso, podemos questionar: será que nossos cabelos crespos estão sendo de fato aceitos em sua plenitude, ou ainda precisam ser “domados” e adaptados a normas sociais que guardam o ranço do preconceito?

Você já sofreu preconceito ou discriminação por usar seu cabelo natural em um “black power”?


* * *


*  Vale dizer que Black Power é o nome de um movimento em prol da afirmação da identidade, da cultura e dos interesses dos negros nos anos 60 e 70. Aqui no Brasil, o nome “black power” acabou sendo associado ao penteado característico dos militantes do movimento, que faziam questão de enfatizar os cabelos crespos como símbolo da afirmação de suas características raciais.

3 comentários:

  1. Claro que sofremos preconceito, e acredito que continuarei sofrendo. Muitas das vezes levo alguns comentários na brincadeira, mas sempre que posso continuo me reafirmando como mulher, negra livre e independente.

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  2. Algumas pessoas quando podem, me alfinetam perguntando quando vou relaxar o cabelo ou não acreditam que eu apenas tonalizo, pois ele é bem enrolado, molinha mesmo. Chefes nunca implicaram diretamente. É difícil nadar contra a corrente quando o tempo todo querem reforçar a idéia de que o crespo é ruim. Mesmo quando bem cuidado e com um bom corte, é um tipo de escolha que incomoda pois ser "ex-dependente química" requer coragem e vontade de conhecer o seu real cabelo, aprender
    a cuidar dele, sentir sua textura, entender o que serve ou não pra ele. É um processo de auto análise muito interessante. Confesso que as vezes fico tentada a usar química, mas penso em quão saudável meu cabelo está e sigo adiante.

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  3. Sou uma mestiça, tenho o cabelo 3C aloirado e a pele branca. Resolvi deixar de relaxar os meus cabelos e fiz o corte radical. Quando ele ficou bem alto, eu me lembro que um grupo de rapazes brancos me chamou de jackson five. Sinceramente aquilo me abalou emocionalmente, pq num mundo onde o cabelo crespo é considerado mal arrumado, ruim, vc se sente mal quando tentar ir contra a "correnteza", e, tb, as pessoas falam mal de vc... Lembro que depois disso desiste do meu cabelo, pq minha alto estima ficou baixa, daí alisei. Mas mesmo assim, continuei insatisfeita, não me sentia bem alisando o cabelo. Fiz o corte radical de novo e hoje estou firme e forte com meu crespo! Ainda bate aquele desespero quando o cabelo não tá legal (meu cabelo é muito seco e espesso!) mas me sinto muito mais feliz comigo mesma que antes, me sinto mais eu. Deixar o cabelo natural não é apenas uma questão de estética, mas é uma luta de valores, em que todos os dias nós temos que brigar para sermos aceitas(os), pq os padrões europeus ainda vigoram no mundo, inferiorizando as características dos negros e seus descendentes.

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