quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Adolescentes e seus ídolos

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A nossa história conflituosa com os cabelos começa na infância. Desde muito jovens, em uma idade da qual nem lós lembramos, já nos víamos às voltas com escovas, químicas, sessões dolorosas de desembaraço e comentários depreciativos. 

Contudo, é na adolescência que essa insegurança se consolida e se radicaliza. A adolescência já é, por si mesma, uma fase conturbada, quando levantamos uma série de dúvidas sobre nós mesmos, especialmente em relação à aparência. “Sou bonita o suficiente?”, “vou ser aceita em um grupo?”, “o que os meninos vão pensar de mim?”.

Sendo os cabelos um elemento tão significativo no visual, não é de se estranhar que ele seja um dos principais focos de insegurança das adolescentes crespas e cacheadas. É nesta época que muitas garotas decidem alisar os cabelos, na tentativa de não se sentirem um “peixe fora d’água”.

É nesta época também que muitas de nós escolhemos nossos ídolos, nossos modelos comportamentais e estéticos. Queremos ser como eles, agir como eles, queremos nos vestir e nos parecer com eles. Pai e mãe se tornam chatos, cafonas, caretas, enquanto o artista da TV ou aquela amiga linda e popular da escola são o máximo.

Em uma idade em que a opinião dos adultos já não parece importar tanto, qual o papel dos nossos ídolos na construção do nosso padrão de beleza? Que ídolos nos são oferecidos como modelo?

Na minha pré adolescência, imperavam os seriados americanos como Barrados no Baile: jovens ricas, bem sucedidas, lindas, loiras e... Lisas! (OK, tinha a Brenda que era morena – e talvez por isso fosse a minha favorita). Mesmo séries com atores negros mostravam atrizes com cabelos alisados.

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Só mais tarde fomos apresentados a personagens como Carrie Bradshaw, de Sex and the City, que nas primeiras temporadas combinava seu cabelo cacheado meio bagunçado com os looks mais fashion possíveis, e Kady, a filha mais nova do seriado Eu, a patroa e as crianças, talvez uma das primeiras meninas a usarem cabelo crespo solto de que me recordo.

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No Brasil, por muito tempo fomos totalmente carentes de modelos a serem admirados – lembro do entusiasmo com a estreia de Isabel Filardis e com os cachos de Ana Paula Arósio. Mais recentemente, Aisha Jambo, Taís Araújo e Sheron Menezzes, entre outras, vieram engrossar o caldo da sopa de encaracoladas da TV, ainda que algumas delas, eventualmente, tenham desfilado com cachos quimicamente tratados.

Sheron Menezzes

O grande dilema dos adultos que lidam com adolescentes às voltas com seus cabelos é mostrar a elas que sua beleza é admirável, ainda que destoe daquele padrão predominante mostrado na TV. É certo que as jovens em grande parte das vezes, tomam as mulheres adultas mais próximas (mãe, tia) como modelo de contestação e não necessariamente de imitação. Por isso e importante construir as bases desde sempre, dando como exemplo não suas palavras, mas suas atitudes – porque adolescentes detestam qualquer coisa que possa ser entendida como hipocrisia. Não peça à sua filha que ame o cabelo dela: você mesma, ame seu próprio cabelo e deixe transparecer isso em todos os aspectos da sua vida e seus atos do cotidiano.

É certo que a sabedoria vem com a maturidade, mas os anos turbulentos da adolescência podem ser um pouco mais fáceis com uma dose de compreensão e acolhimento.

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