quarta-feira, 28 de março de 2012

Quando a crítica vem daqueles que amamos

 
O processo de transição é um momento difícil. Como qualquer mudança na vida, assumir os cabelos crespos envolve autoaceitação física e psicológica, sendo um período de reinvenção de nós mesmas.

Da mesma forma que a mudança nos afeta, ela afeta também as pessoas que nos cercam. Assim como demoramos um tempo até nos acostumarmos com nosso novo “eu”, as pessoas próximas a nós também precisam de um tempo para processar essa mudança, especialmente se passamos a maior parte da vida com os cabelos relaxados ou alisados.

Por vezes, justamente aqueles que mais amamos (nossos familiares, amigos, parceiro) fazem comentários nem sempre agradáveis – quando não realmente duros e incisivos – “você precisa se cuidar”, “tem que arrumar esse cabelo duro”, “isso está horrível, faz uma escova”... Esse tipo de comentário não é nada animador e pode nos fazer balançar na nossa decisão de retorno ao natural.

Dizer simplesmente para alguém em transição não se importar com esse tipo de crítica é inútil. Todos nós sabemos como as críticas afetam o ego, a autoestima – especialmente aquelas críticas vindas de pessoas importantes para nós. Então, o que fazer numa situação dessas?

Informe-se. Saiba o que é nocivo e o que é benéfico não só aos seus cabelos, mas também à sua saúde em geral. Produtos para alisamento e relaxamento dos cabelos danificam não só seus fios, trazendo ressecamento e quebra, e seu couro cabeludo, com queimaduras e irritação, mas há também evidências que ligam essas substâncias a uma série de doenças, como miomas e puberdade precoce nas meninas. Progressivas contém formaldeído, substância utilizada para conservar cadáveres (!!!) e responsável por causar problemas respiratórios sérios. Não há como saber os efeitos, em longo prazo, de substâncias potencialmente venenosas aplicadas em nosso corpo em pequenas, mas regulares doses. Informação correta se transforma em argumento embasado àqueles que não apoiam sua decisão. Quem sabe depois disso eles não vejam os alisantes com mais cautela também?

Abra-se. Se você tem uma relação de honestidade e confiança com essas pessoas, por que não abrir seu coração e falar a elas como esse tipo de comentário fere seu coração? Seja sincera e explique como você se sente. Esclareça as dificuldades inerentes à transição, à autoaceitação, à indefinição momentânea da sua imagem corporal. Diga o quanto você gostaria de obter o apoio das pessoas as quais mais ama e como esse suporte facilitará o processo de mudança.

Conecte-se. Há uma grande comunidade de naturalistas, em fóruns, blogs e sites internet afora. São pessoas de várias partes do mundo, vivendo em diferentes culturas, com diferentes costumes, mas com uma experiência em comum: a da redescoberta do cabelo naturalmente crespo e encarapinhado. Se as pessoas diretamente ligadas a você não conseguem entender seu ponto de vista, compartilhe seus anseios, suas angústias, mas também suas conquistas e seus momentos felizes com suas irmãs naturais. Além de dicas e suporte, você ainda pode fazer novas e boas amigas não só “de cabelos”, mas para a vida toda.

14 comentários:

  1. Verdade Nica! Eu não enfrentei comentários diretos, mas olhares...esses eu recebi de várias pessoas! Olhares de reprovação, de desprezo!

    Hoje em dia, vejo o quanto valeu a pena passar por tudo o que passei para ter um cabelo natural! Os mesmos olhares de reprovação viraram olhares de admiração!!! Até me pedem opinião sobre tratamentos, acredita? rs

    Enfim, gostei bastante do seu post e é uma super força para as meninas que estão em transição ou pensam em abandonar a química.

    Um beijo pra vc linda! ;)

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    1. Oba, Aninha, que bom que vc gostou!
      Os olhares nunca acabam... Mas a gente aprende a lidar com eles e ficar ainda mais forte na nossa decisão, né?
      Bjos!

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  2. Post lindo demais, além de ser de utilidade pública, né?!

    (Esther Mara)

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  3. Essa semana minha mãe estava me dizendo que meu cabelo não tem mais jeito pq ele é duro e que eu deveria fazer uma permanente.... eu pensando com meus botões que não faço nem doida e que os cuidados valem a pena...

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    1. Que bom que você está firma na sua decisão :)
      É chato escutar esse tipo de coisa, mas faz parte da nossa jornada, e do nosso crescimento... Temos que tirar as coisas boas daí!
      Bjos!

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  4. Amei seu post, porque estou exatamente nessa fase de transição, e ler esse tipo de coisa e um incentivo a continuar tentando.

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  5. As pessoas olham como se fossem desleixo nosso e às vezes falam prá eu dar um jeito melhor nele. Eu atualmente digo que depois de relaxar durante 30 anos (eu tenho 43) agora resolvi dar um basta e conhecer meu cabelo, tentar cuidar dele do jeito que ele é. Conheci seu blog agora e estou adorando. E realmente para nós mulheres negras, cabelo não é só cabelo, é amar e aceitar a si mesma. E te digo que quanto mais baixa a instrução, maior é a cobrança.bjs

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    1. É verdade, quanto mais baixa a instrução, maior a cobrança por cabelos mais lisos, não sei por que!

      Acho que é a cultura que o povo tem de tentar "clarear" a família. Na minha opinião, os negros menos instruídos são os mais preconceituosos contra nós mesmos! Lamentável.

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    2. Deh e Ellis na minha opinião, esse fato que vocês constatam é só mais uma "artimanha" do racismo presente na sociedade onde vivemos. As idéias racistas atingem a todos, inclusive nós negros, que somos os prejudicados e acabamos por nos sentir inferiores a ponto de não querer que nossos filhos sejam como a gente, tenham nossa cor, nosso cabelo. Por isso, não devemos culpar nosso irmãos pelo preconceito, porque eles são duplamente vítimas: além de se auto depreciarem ainda sofrem com o julgamento dos outros não negros.

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  6. Nossa, cada dia me identifico mais com seu blog!

    90% da minha família aprovou meu black, porque durante meu período de transição, eu já usava um black quimicamente tratado, então foi mais fácil.

    Mas quando o cabelo natural começou a crescer e eu tirei todas as pontas com química, ele ficou muito embolado e curto, sem balanço e movimento, ai começaram as críticas.

    Mas eu já sabia que viriam e decidi não me importar com elas! Estava preparada pra responder que eu estava feliz com a nova fase e determinada a deixar ele virgem! Isso já faz 1 ano e 5 meses, mesmo assim continuo recebendo críticas.

    Sempre vai ter quem goste e quem não goste de alguma coisa em você. É você que tem que aceitar essa verdade! Vai ser mais fácil viver se você souber se impor e mostrar que você não depende da aprovação dos outros pra gostar de você e ser feliz com o que tem!

    Boa sorte pras que estão em transição! E parabéns pelo post Nica!

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  7. Olá, eu estou na fase de transição. Hoje minha mãe tirou uma parte das pontas do meu cabelo que estavam com química, ainda tem química. Mas tirei o mega ontem, e hoje fui ao seu salão hidratar. O engraçado é que o primeiro comentário preconceituoso veio de uma das cabeleleiras. É muito difícil isso! Muito difícil este momento de transição. Acho o meu cabelo ralo, gostaria de saber se existe algum corte indicado para cabelos ralos crespos.
    Obrigada pelo post.

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  8. Graças ao meu Bom Deus essa fase foi super "de boa" para mim!
    Eu recebi apoio da minha família, e de colegas...eu não sei se eles foram sinceros ao me elogiar, ou a não dizerem nada em relação ao quão feio estava o meu cabelo (porque realmente ficou horrível), mas eles foram sensíveis, respeitaram a minha decisão e me respeitaram...isso foi o essencial! fico muito feliz por não ter passado por criticas e todas essas situações desagradáveis que às vezes as pessoas nos expõe.

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